segunda-feira, setembro 04, 2006


estou à beira de fazer sete anos e tenho as minhas mãos agarradas às tuas. tenho as pernas nos teus ombros. dobradas sob o teu peito. estou aqui e saltamos juntos. nos sorrisos de uma inexplicável alegria e de um medo inescapável. o céu negro. o céu naquela música de tanta luz. estremecendo. livre através da memória do som. e as minhas mãozinhas que te agarram. ora nas mãos. mão sobre mão. ora nos ombros. e eu criança. com o olhar solto para o céu na idade maravilhosa dos lábios anteriores aos trapos das palavras. e as tuas pernas que se movem com a força de um vento de coração aos saltos. pai! pai! grito. e o céu enorme. aberto como uma coroa. ali. nas minhas mãos sobre as tuas. vermelhas. naquela noite tão ardente. sonho sobre sonho em nós. na minha cabeça voltada para a noite. nos teus ombros que me seguravam. nos meus olhos fechados por dentro do ritmo. no avante. no avante. as pessoas. o som. o grande som. das pessoas que dançam connosco. são mil pessoas. são mil pessoas nos meus olhos, pai. são mil pessoas na minha cabeça. no avante, pai. em ti. nos teus ombros. no meu cabelo que também dança. pois tudo ali dançava. à roda. à roda. no avante. estou à beira de fazer 7 anos. estou à beira de fazer sete anos e a minha idade dança. nas tuas mãos. na memória da folia. na memória dos meus olhos. são mil pessoas, pai! são mil pessoas?, rias no escuro iluminado. são muito mais, filho!, somos muitos mais, filho!