terça-feira, novembro 07, 2006



E se uma luz branca lhe escondia o que ao mesmo tempo iluminava, durante a noite o corpo dele debruçava-se sobre o cansaço do fundo da floresta em que vivia todos os dias. todos os dias. Alheio à grande comoção das coisas nascia de manhã, pela chuva, nas nuvens frias e numa certa e fina raiva feita de rebeldia. A noite vertia estrelas, um rádio ficava deitado todo o dia sobre a mesa como antigamente. E ele, contudo, caminhava noite após noite, através desta noite ou de outra qualquer que se lamentava por dentro da eternidade como uma estrada que lhe rompia as mãos de sangue e desertos. Amanhã morrerei. Dizia baixinho. paralisado no gesto lento de quem vela já longe. depois do som. dentro de si, cada vez mais longe pelos dias inclinados na chuva e nas arestas das estrelas. caminhando. sobre as águas no grande espaço dos olhos cegos. pois amanhã estarei à tua porta, próximo, enfim. na palavra que se repete. através da distância. do clamor nulo do horizonte fechado como os instantes. caminhando. dançando. como as palavras. pequenas explosões. próximos de apagar a diferença de eu ser. a sombra na sombra. o cigarro no cigarro. o limite no limite. a dor na dor. de corpo enrugado. próximo da luz que então descia.