sábado, fevereiro 04, 2006


O mestre levou as mãos aos ombros do jovem aprendiz.
- Semelhantes a nós - continuou Sócrates. - Apreendeste agora a questão? Julgas que algum aspecto do Ser que eles visionam é real?
Bastian endireitou um pouco a cabeça. - Acho que sim, Sócrates. Não será o sofrimento real para aquele que o sente? Não será cada um de nós a própria medida da realidade? - replicou num gemido.
O mestre fechou um pouco os olhos como se de novo olhasse para muito longe ou para dentro do principezinho.
- A minha rosa - continuou o principezinho -, a minha rosa pode muito bem ser minha criação, tudo o que eu vejo, todas as imagens que eu sou poderiam bem ser aquela catarata de sonhos de que me falas, mas o que eu sinto sobre elas, o facto de que eu sou eu e de que neste ponto de fuga absoluto é inescapável a verdade de que são minhas e de que para mim existem, como poderia ser falso?
- Considera pois, o que aconteceria se na verdade mais íntima nenhuma daquelas realidades existisse. Se no mais fundo da verdade cada um de nós fosse uma imagem de imagens, uma memória de memórias, uma pessoa sem nada de real lá dentro. Já pensaste nisto, Bastian? Já pensaste que talvez na realidade mais profunda eu não esteja aqui, nem de ti se possa dizer com verdade que estejas também aqui, diante de mim, posicionado, lançado na facticidade finita do que ora se apresenta ora se oculta ao teu suposto olhar?