quarta-feira, abril 12, 2006


Aguardas. São seis da manhã e eu sei que do outro lado da exaltação do mundo, nos terrores da noite vagabunda és tu que me seguras como uma paisagem deitada e enorme pela vida. Tantas vezes. Tantas vezes me aguardas que não sei se algum dia te atrasarás. Sentas-te. misturas-te no chão ou olhas-me vertiginosamente pelas pálpebras quase transparentes da manhã. e da porta do quarto para a cozinha tu és sempre os meus passos com uma fidelidade sem razão. lá fora o sol, a chuva ou as luzes frente ao escuro. nada dizes. e é tão tarde para ti porque me aguardas sem esperar deslumbrada pelo mudo viver dos dias. são seis da tarde. são seis da tarde e eu sei que do outro lado do mundo estremecem as cidades lavradas pelo brilho aberto do céu intangível. são seis da tarde. e só tu que me aguardas sempre estás puramente aqui deitada numa delicadeza sem nome, nocturna e misteriosa.