quarta-feira, abril 19, 2006


O caminho mais curto ainda leva mais tempo, porque temos que voltar para trás. porque temos de voltar para trás. porque temos de voltar para trás.porque temos de voltar para trás enquanto aos pés da eternidade o amor atravessa todas as ruas como num cantar muito brando e enorme. obsessiva é esta solidão. a solidão inteira de ser o príncipio. de ter as mãos a tremer como se ardessem numa angústia de clavicórdios e borboletas pelas noites de verão. recordando aquele calor feito de uma infância que azul cantava por uma espécie de cegueira reconstruída hoje na resina das memórias. são fabulosas, penso. fabulosas são as noites em que te choro e comovido digo uma palavra que logo mergulha no tempo. dentro da voz, dos ossos da minha boca levantada para o céu. do crânio, desta massa de sangue espessa que canta o lugar sagrado. que canta aquele lugar tão quieto. tão delicado e absoluto como o meu silêncio por dentro quando para trás me volto.