segunda-feira, junho 12, 2006


Aos olhos daquela criança nascia uma terra de força bruta, de penhascos e escarpas profundas como o mar alto. Era uma serra da altura de uma estrela que o mar perdeu um dia e que ali se erguia sem medo como uma rocha junto ao céu. Orgulhosa, contida em tudo, difícil de trabalhar como um cavalo mas de uma rectidão comovente, era uma terra entenebrecida e apaixonada pelas grandes vertigens do frio e do calor. Aqui, nesta terra úbere de uma paisagem indizível e rara sobretudo perante o anónimo labor quotidiano do trabalho dos que nela então se arriscavam na faina, o principezinho dormia na casa de um homem e de uma mulher que apesar de tudo, mesmo com o avançar da idade, plantavam ainda flores no quintal para cedo morrerem pelas geadas dentro ou então pelo ardente calor do Verão. No carro a criança espreitava pela janela. Grande era a paisagem que lhe abria o coração. Era um lugar de extremos, sentiu. De uma beleza sábia, teimosa, difícil e árdua na força do granito que lhe escorria nas veias e riachos com o raro gozo das flores que escorria no centro assombroso do delírio desta montanha.