sábado, setembro 24, 2005


Através da janela do meu comboio a minha terra cheira ainda ao feroz trabalho do sangue batendo no solo. Sem granito os meus dias acordam no meio da cama, no centro das minhas tardes. Levanto-me no ar, na folha lisa dos quartos que luzem sem razão. Visto o casaco. Saio cá para fora; tenho o meu corpo cravado e rasgado pelo esforço teimoso de lutar por mim. Saio cá para fora e no comboio a luz macia brilha como uma pétala nas minhas mãos ainda de rocha. É finalmente Outono, digo, quase em voz alta; e como que multiplicando um gesto imperceptível, um só daqueles que trago das regiões montanhosas de onde sou, fecho o casaco negro do meu peito e desprendo as folhas dos caules das árvores estreitas que caminham nas ruas. Dias. A minha vida são dias. Começou o frio e todas as minhas canções descem aéreas, soltam-se do barro quente para a breve confusão das folhas musicadas pelo chão.