sexta-feira, setembro 30, 2005


Onde eu habito, faço de mim as cordas de uma viola e os meus dedos reconstroem uma espécie de luz na memória do teu sorriso. Chegado a casa depois do trabalho, ninguém sabe quem sou e eu próprio me desconheço em tudo até ao final do meu círculo: em mim as sombras e penumbras da minha casa são de novo totalmente minhas numa sabedoria quase compacta e final. Bem sei, bem sei que não tenho saído de casa e que nada mais faço senão pensar tudo o que me rodeia. Acho que as coisas me falam palavras surdas, compactas como a espessura das imagens. Se for bem ouvida, uma toalha nua, uma toalha nua e longe de um excesso abraçado poderia dizer-te como agora me desaprendo para ser nada de manhã. E que para me fechar nas minhas mãos sou como uma rosa que te morre ao contrário dos dias. Sou como uma luz que taciturna à entrada para uma candura sem nome se perde despedida pelas ondas da escuridão.