quinta-feira, outubro 20, 2005


Tão completamente a chuva por entre as palavras cai que eu não sei onde nas ruas se demora o meu coração. Antes de sair de casa, logo pela manhã, iluminado apenas pela luz ténue de um candeeiro fraco, eu sou um bosque encaracolado num beijo verde de paz e silêncio. Recortado na solidão dos dias onde sou cego, por dentro de mim e do meu cansaço há ainda animais corações perdidos para o rendilhado inconfessável de existir. Lençol lento e doente que me arrasta para fora, antes da minha vida em vigília, em dormentes sonhos matinais eu sou docemente as minhas chagas lançadas ao ar, à luz de um cadeeiro por existir, no trabalho do sangue que nasce com a água e na luz, no verde silêncio deste animal vibrante que se demora pelo meu peito tão completa e mortalmente.