sábado, novembro 05, 2005


Eu chego a casa e ela dorme e sonha. Leva os dias no extremo labor das horas que ignoro e que na verdade pouco me importam por dentro. Sei que a minha vida me queima e que o rosto dormente e impassível que trago se perde desmoronado no vinho; sei-o quando chego a casa e te digo que no meio da névoa mais pura que na manhã nada há que me sustenha na penumbra das palavras surdas e lentas. Eu chego a casa e as minhas mãos são o pão e as rosas que como pela boca numa tristeza cansada e de um amarelo vindo das candeias que balouçam altas lá fora ao vento. Eu chego a casa e ela dorme; tudo na verdade dorme extremamente no sorriso lírio dos ossos mergulhados nos órgãos do sono queimando as imagens do dia. Eu chego e a minha casa está ali deitada em volta da rua num silêncio demorado e caído pela calçada fora enquanto ao mesmo tempo dorme e sonha.