domingo, janeiro 08, 2006


Eu lembro-me muito bem quando eras tão pequenino que cabias em sonhos dentro das minhas mãos. Bem sei que me viste naquele dia. eu era todo um insensato arrepio na cor da resina da tua madeira tão viva como os olhos de uma criança. lembro-me de dormires nos meus braços enrolado como uma alma tranquila e abandonado a uma ternura eterna. E tudo isto fazia-me sentir tão humano. tão humano de te ter aqui. de estares lançado nos meus braços, como um irmão de uma impossível ressurreição. de seres uma carne que cantava uma extensa atenção pelas nossas veias numa finitude de mãos fechadas. eu lembro-me de tu seres a forma descida de uma glória que caiu. aqui. nos meus braços. nos meus braços, hoje, tão cheios dos latidos que começam em ti. e acabam em mim. eu lembro-me. do suor de te querer para sempre por entre os soluços que naquela manhã batiam nas janelas do meu quarto crepuscular. lembro-me nas imagens. golpeado por um vento muito frágil. lembro-me, sussurro. e de dia eu era um tremor recolhido numa felicidade que se beijava pelo teu pêlo de encanto no som do meu louvor por ti. e de noite, escoados todos os meus dias até ti, de noite, eu penso que eras talvez tu que me imaginavas por dentro. encurvando o ar por uma paixão espantosa.