O silêncio era tão absoluto que o seu ouvido apurado ouvia os passos de um viandante rangendo na neve, lá muito longe ainda. [...] Tudo nele era cinzento como a pedra, o fato, a cara e o cabelo. Quando estava assim, de pé e imóvel, parecia esculpido num bloco de lava. Só os seus olhos cegos eram escuros, e tinham lá no fundo um brilho que parecia uma chamazinha.
Quando Bastian - pois era ele o viandante - se aproximou, disse:
- Bom dia. Perdi-me. Procuro a fonte donde brotam as Águas da Vida. Podes ajudar-me?
O mineiro escutava a voz que assim falava.
- Não te perdeste - murmurou ele. - Mas fala baixo, se não as minhas imagens quebrar-se-ão. [...] Depois o mineiro encostou-se para trás, na cadeira, e os seus olhos pareciam olhar para muito longe através de Bastian; perguntou num murmúrio:
- Quem és?
- Chamo-me Bastian Balasar Bux.
- Ah, então ainda sabes o teu nome.
- Sim. E quem és tu?
- Sou Yor, a quem chamam o Mineiro Cego. Mas só sou cego quando há luz. Na minha mina, onde reina a escuridão total, posso ver.
Michael Ende, A História Interminável, trad. de M. do Carmo Cary, Cap. Y.
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