terça-feira, maio 23, 2006


Redondo é o olhar de uma mulher unida pela luz no centro de uma flor. uma mulher crisálida que rolava à noite pelos grandes lençóis de avenca do meu mundo. através da brancura das paredes no branco dos olhos. numa brancura resvalada. ser tão leve e frágil como os sonhos afogados junto às ondas. que no rosto. que no seu rosto começavam a nascer incessantes logo que abria os olhos. os cabelos. tão macios. eram debruçados torrencialmente para um lago de uma ternura que logo desenhava os lábios finos do amor nos baloiços que então vibravam à chuva. era uma mulher. uma mulher que cantava um cabelo suave e enlouquecido pelo vento tão raso como uma clareira. era uma mulher que vértebra a vértebra se estendia sobre o chão nua como um mosaico ou uma toalha vermelha. era uma mulher. dizia. é uma mulher rutilante como um fruto de outono, como uma coluna de ar que se ergue dos lábios aos pés de uma grande estátua. como uma borboleta estática. só acompanhada pelo vento arquejante ou por uma arpa envolta num musgo nascido do lado da humidade do sexo. ou dos seus olhos. tão altos e lacrados por uma espécie de mistério reconstruído. por dentro. por dentro de uma alvura que nasce ao lado da dor de duas mãos que se separam por dentro do mundo. das flores. como uma escada que lentamente se erguia para o céu junto ao autocarro: os troncos. o teu torso tão branco. as costas, as tuas costas marítimas. os olhos estrangulados sobre a terra engolfada por um sangue que varria todos os quartos. através das mãos. junto à paragem, como uma roda de bicicleta que se levanta para as ondas azuis. à distância dos olhos. dos teus olhos. à distância das mãos que se desunem. do autocarro que parte. de um ramo de flores deitado ao chão num círculo de viagens. em recapitulação.