porque a esta hora não sabes ainda que estou aqui. debaixo das tuas mãos, protegido. bosque posto à orla da cidade, fecho os olhos e do denso corpo à guerra habituado desprendo-me como uma nuvem larga o céu para os deuses. eu nem sei onde me faço, onde me construo ou me sento afundado no corpo verdadeiro do vinho e da carne que ainda aqui estão. perante mim. fecho os olhos e há todo este céu azul que quer acordar dos meus olhos. são onze da noite e as minhas mãos tornam-se hábeis na luz que começa secretamente a sussurrar no quarto onde o meu sono habita. imagens. no imo das imagens desaba a minha cabeça desatada aos flocos misturando o fumo, os pássaros, o som, as estações, aquele trânsito limoso ao vento num desamor rápido que deita sobre as calçadas de Lisboa. e eu impassível. aqui sentado, como se fora de mim eu fosse outro. mas por dentro. de olhos abertos para uma espécie de céu reconstruído, abrindo uma espécie de névoa quando se me quebrou a alma numa viagem muito antiga, Ulisses era esta luz que se misturava num regresso para ser ninguém. fugindo do grande abismo do mar quando entre ele e a terra havia a distância de um só grito, o principezinho ouviu em sonhos o barulho retumbante do mar contra os rochedos. não haviam portos ou promontórios, nenhuma enseada o poderia abrigar e contra tudo rebentavam enormes ondas que enfraqueciam os pensamentos e o coração daquele mortal já tão fustigado pelo caminho do sofrimento. à medida que nadava chegou então a uma espécie de terra que alva era em sorriso reconstruída. não tinha rochas à sua volta e estava mais abrigada do vento. assim, Ulisses era salvo em sonhos: jazia sem fôlego, incapaz de falar, incapaz de se mexer tal era o cansaço ingente. mas agora, agora exausto deitava-se de olhos fechados com uma nova confiança. uma onda o tinha levado para a terra dadora de cereais e desta vez, debaixo de dois arbustos nascidos da mesma raiz, debaixo de uma oliveira brava e de uma mansa, debaixo das tuas mãos. o mortal sentia que estava menos exposto ao frio e às feras selvagens.
domingo, julho 23, 2006
porque a esta hora não sabes ainda que estou aqui. debaixo das tuas mãos, protegido. bosque posto à orla da cidade, fecho os olhos e do denso corpo à guerra habituado desprendo-me como uma nuvem larga o céu para os deuses. eu nem sei onde me faço, onde me construo ou me sento afundado no corpo verdadeiro do vinho e da carne que ainda aqui estão. perante mim. fecho os olhos e há todo este céu azul que quer acordar dos meus olhos. são onze da noite e as minhas mãos tornam-se hábeis na luz que começa secretamente a sussurrar no quarto onde o meu sono habita. imagens. no imo das imagens desaba a minha cabeça desatada aos flocos misturando o fumo, os pássaros, o som, as estações, aquele trânsito limoso ao vento num desamor rápido que deita sobre as calçadas de Lisboa. e eu impassível. aqui sentado, como se fora de mim eu fosse outro. mas por dentro. de olhos abertos para uma espécie de céu reconstruído, abrindo uma espécie de névoa quando se me quebrou a alma numa viagem muito antiga, Ulisses era esta luz que se misturava num regresso para ser ninguém. fugindo do grande abismo do mar quando entre ele e a terra havia a distância de um só grito, o principezinho ouviu em sonhos o barulho retumbante do mar contra os rochedos. não haviam portos ou promontórios, nenhuma enseada o poderia abrigar e contra tudo rebentavam enormes ondas que enfraqueciam os pensamentos e o coração daquele mortal já tão fustigado pelo caminho do sofrimento. à medida que nadava chegou então a uma espécie de terra que alva era em sorriso reconstruída. não tinha rochas à sua volta e estava mais abrigada do vento. assim, Ulisses era salvo em sonhos: jazia sem fôlego, incapaz de falar, incapaz de se mexer tal era o cansaço ingente. mas agora, agora exausto deitava-se de olhos fechados com uma nova confiança. uma onda o tinha levado para a terra dadora de cereais e desta vez, debaixo de dois arbustos nascidos da mesma raiz, debaixo de uma oliveira brava e de uma mansa, debaixo das tuas mãos. o mortal sentia que estava menos exposto ao frio e às feras selvagens.
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