domingo, dezembro 03, 2006



Noutros momentos os dias deitavam-se para o negro do chão. e nisto, Ulisses caía e desejava com os punhos cerrados e os dentes em sangue nunca ter nascido. Para onde me leva isto tudo?, questionava. Para onde vou? E no sofrimento da interrogação por si mesmo tinha a percepção clara e irredutível de que estava só, de que morria sozinho mesmo que por vezes estivesse acompanhado. Ninguém morria com ele e na humilhação clamorosa das coisas, o Filho do Homem sofria perdido e inclinado para o silêncio das cartas que dormiam com ele. tão sucessivas. tão sucessivas como as migrações. de pássaros. de cartas fechadas que nunca abri. dentro do movimento, do pequeno movimento do carteiro. mas nada. nenhum barco chegava de uma manhã. Nenhuma luz lhe pendia da cabeça. longe, longe. na cinza do cabelo. e o Filho do Homem chorava o ar cansado cercado pela noite. que o ceifava. sozinho. no tempo repetido do tempo. cercado pela luz. no espaço entre as suas mãos. pela sede de que morria como um tiro no coração. por não saber. por não querer saber. de que a sua sombra se multiplicava pelo sono. e de que cada sonho o levava para mais longe. e de que a pouco e pouco deixava de separar o silêncio do que escrevia. era um ninho desfeito. uma palma da mão que se virava para longe. para longe, no meio do que escrevia e do que esmagado silenciava. para nunca mais, dizia. rebentando como um clarão enraivecido.