Negros eram aqueles dias. Dias de catástofres e de uma peregrinação que não se suspendia ou repousava sobre nada. Nenhuma suprema significação o sustentava, nenhuma visão incessante lhe guiava os horizontes. Nenhuma alma ou imagem o aprisionava para uma liberdade dentro do mundo. O mortal, na rigidez frágil da carne, estava onde boiavam tempestades sobre os oceanos cegos no vácuo dos ventos e na espuma das ondas para lá do esquecimento. Mas Ulisses, ao mesmo tempo que cerrava os dentes de dor, procurava com toda a sua força abrir os olhos para o vivo vento que se abatia sobre si. Com o corpo enrolado como uma concha tombada sobre a neve branca do areal, tinha os olhos inclinados para o chão como uma borboleta de asas fechadas no ciciar contínuo de existir: Pai, meu pai, porque me fechas os olhos?, perguntava. Os anjos tombavam e nenhuma aurora ou palavra luminosa lhe saía dos lábios agora tão amargos. Os cabelos de Ulisses eriçavam-se e na linguagem do silêncio o mortal gritava para o escuro caminhando por vazios de asas enormes, perdido de azul numa ternura desolada e talvez interminável. Pai, meu pai, dizia; que caminho recuado me teces quando cai a noite no meu rosto e dentro de mim chove sem nenhuma água me adormecer, quando nada, nenhuma palavra me consola e eu vejo o vermelho vivo de minha carne recuar, emagracendo para dentro de mim como um passo terrível para a morte? No centro daquela tempestade, Ulisses, a única criança que não crescia, dividia a paisagem com as mãos e repetia na cadência da respiração estas palavras brutas no caminho da memória e do frio. Nada o sustentava e o Filho do Homem começava então a ter sido feliz numa outra espécie de tempo, numa outra espécie de mundo, numa outra espécie de lugar.
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