domingo, janeiro 21, 2007

A noite aprofundava as mãos nas trevas e Ulisses era como um grande fugitivo ou até como um velho timoneiro sem rumo deixado à violência de um clima atroz. No frémito do imutável oceano aquele mortal confundia o tempo e no interior da dor condenava e amaldiçoava todas as imagens que durante a vida guardara dentro de si. Naquele dia recordou o balouçar dos bancos nos jardins sozinhos ao entardecer, recordou o tempo em que todo um exército de palavras e novas ideias o abandonara sem amparo para uma poesia morrente. para uma poesia cujo ofício era o de morrer. e pensando nisto, caminhando sem sonhos, sem ideias e no escuro, subia as mãos ao céu enraivecido por uma dor coronária e intransponível.