domingo, novembro 06, 2005


No fundo da água esbraceja a minha vida de olhos abertos para o frio. No trabalho da carne, dos ossos, das contínuas artérias pulsa-me o rosto unânime num abraço desordenado de uma dor estanque e gangrenada pela sombra fora. Eu não sei quem me agita no escuro dos braços abertos, nos olhos catedral que me morrem engolfados em espasmos de um cansaço sem termo. Eu não sei que soberba ou brilho se molda em torno do meu peito perante o dom deste naufrágio a que a água me obriga veloz numa teia de esquecimento. Eu não sei. E engolfado na nudez da roupa ponho o escuro nas minhas costas feitas de umas folhas muito finas e tácteis à superfície quieta da água e do amor.