sábado, novembro 19, 2005


O que afinal me lê são todos os livros que por dentro me perfazem enquanto me esqueço de quem sou numa infância que se perde na força da minha barba. Lembro-me de não haver eu quando o sol bocejava e subia todas as tardes sem mim sem palavras. Tenho aliás fotografias que provam que eu não existi nesse tempo junto à água, dentro das asas ou na minúcia dos sonhos. Porque me sento ao balcão de um café e às vezes também choro numa camisola azul e nua de tanto frio, penso que devagar se pode apagar o meu nome para de novo me perder. Acho que de repente posso até deixar de me ouvir respirar enquanto os meus olhos se desviam numa distância coroada de uns muros muito adormecidos para uma lonjura turva e sem tamanho. Ouve-se. Página a página. Mexendo devagar. as pálpebras. a clavícula que devagar cresce no rumor da carne e desta cama em particular. O livro? O que afinal me lê são todos os livros neste livro. que me perfaz enquanto me esqueço numa fotografia sem tempo. assim de repente. rasgando o brilho das páginas. para as letras dos meus dias. que se vão apagando lentamente num silêncio mulher, beijado até à chaga do meu coração fechado.