domingo, novembro 27, 2005


Quando lá fora o céu chuvoso canta uma espécie de enorme comoção na ternura embebida da chuva, as aves fogem para longe e na cidade inteira repousa uma sucessão de sons pequenos como pálpebras palpitantes que se fecham incessantemente. Eu sigo daqui o meu inverno e ele nasce das minhas costuras num pavor árduo e numa nua impetuosidade animal. Onde a noite se aprofunda para dentro do frio, o sol sou eu mesmo e assim eu sou o homem inábil e fechado numa massa íntima de nuvens e estrelas que se suicidam no tempo. Pelas minhas mãos fogem as mesmas aves que abandonam as cidades sem luz e que confundi com o tempo enquanto eu fico aqui; e pelo meu peito passam os dias, o clima atroz, aquela tua praia atra numa fereza de um clamor que como um manto ainda me atravessa de um braço ao outro por entre imagens que se desenrolam na ternura sumptuosa dos buracos luminosos da minha roupa ainda quente.