E no fundo de mim sou apenas humano. de uma humanidade que se desprende para fora dos livros que me lêem ou do que por venturas e desventuras aqui se escreve ao toque suave dos meus dedos.a esta hora espraia-se o mundo derramado nos elevadores apinhados e no suor frio e animal das pessoas, lá fora, o natal cresce no rosto das ruas e a superfície do mundo corre pelas pernas e pelo sexo delas debaixo de mim, debaixo do meu coração que bombeia em ecos lentos e difíceis pelo frio. por acaso sei agora, tenho exactamente agora aquela impressão absoluta como um diamante de por dentro de mim nada mais haver senão esta humanidade infinita e impossível de imaginar rigorosamente. os limites da minha fotografia vislumbram-se talvez aqui. se qualquer grafia fosse de alguma forma este absoluto, eu tenho o sonho estranho de que nada no mundo restaria senão uma brisa ou o teu cabelo urgente, meu amor. depois eu penso que é tão triste haver coisas do outro lado das montras. naquele abandono infinito de estarem expostas e posicionadas. penso nesta tristeza como quem pensa numa fotografia. e eu permaneço aqui sentado, infinitamente sentado aqui. naquele peso que se afunda numa serenidade que não admite convidados. com o meu corpo estreito e organicamente tecido numa teia de dor e prazer tão característica da vida. estou aqui sentado, e esta humanidade sou eu, como se devagar fosse uma mulher expulsa do mar pelo corpo vivo das ondas brancas, ou aquele navio que se estivesse no ártico, enquanto respiram as baleias, podia muito bem afogar-se luminoso num último gesto de uma vertigem e liberdade excessiva. eu penso: uma fotografia. onde poderei ser o silêncio que morre aqui quando digo uma imagem?
terça-feira, dezembro 20, 2005
E no fundo de mim sou apenas humano. de uma humanidade que se desprende para fora dos livros que me lêem ou do que por venturas e desventuras aqui se escreve ao toque suave dos meus dedos.a esta hora espraia-se o mundo derramado nos elevadores apinhados e no suor frio e animal das pessoas, lá fora, o natal cresce no rosto das ruas e a superfície do mundo corre pelas pernas e pelo sexo delas debaixo de mim, debaixo do meu coração que bombeia em ecos lentos e difíceis pelo frio. por acaso sei agora, tenho exactamente agora aquela impressão absoluta como um diamante de por dentro de mim nada mais haver senão esta humanidade infinita e impossível de imaginar rigorosamente. os limites da minha fotografia vislumbram-se talvez aqui. se qualquer grafia fosse de alguma forma este absoluto, eu tenho o sonho estranho de que nada no mundo restaria senão uma brisa ou o teu cabelo urgente, meu amor. depois eu penso que é tão triste haver coisas do outro lado das montras. naquele abandono infinito de estarem expostas e posicionadas. penso nesta tristeza como quem pensa numa fotografia. e eu permaneço aqui sentado, infinitamente sentado aqui. naquele peso que se afunda numa serenidade que não admite convidados. com o meu corpo estreito e organicamente tecido numa teia de dor e prazer tão característica da vida. estou aqui sentado, e esta humanidade sou eu, como se devagar fosse uma mulher expulsa do mar pelo corpo vivo das ondas brancas, ou aquele navio que se estivesse no ártico, enquanto respiram as baleias, podia muito bem afogar-se luminoso num último gesto de uma vertigem e liberdade excessiva. eu penso: uma fotografia. onde poderei ser o silêncio que morre aqui quando digo uma imagem?
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