quarta-feira, dezembro 21, 2005


Eu penso nisto tudo e sei que sou a minha mãe nascida num relâmpago nu, firme e silencioso como num tempo antigo de doçura e sonhos. A imagem, qualquer tua imagem é um objecto transcendente, degradado, passivo e de uma irracionalidade tão bruta que se fecha sobre si mesma numa interioridade nunca exterior. Tal como ontem, na treva do limite de um livro à beira de uma cama, aqui eu sou a absorvente e maravilhosa memória da melancolia do que jaz deitado aí numa mesa tão pura. Eu tenho a memória, tenho talvez também as fotografias como incêndios pela luz fora. e tudo isto o que quererá dizer? De repente olho para mim e sou todas estas imagens que me ardem nos espinhos que me inspiram. Tanto caminho caminhado. uma fotografia, toca-me todo e no chão ergue-se de novo a canção luminosa da tua voz. Uma fotografia podia bem ser o gesto das mães que na costura dobram ainda os dedos correndo pela única noite de haver imagens que nos perseguem como ecos.