quinta-feira, agosto 10, 2006



branca. imóvel como uma enorme e desmedida paixão. através do vidro de uma janela imersa ao fundo de uma rua, a casa da minha infância arde perdida. perdurando num animal que aguarda no olhar a minúcia dos meus sonhos. nas margens daquela casa hirta e branca descola-se do peito a minha indiferença. e quando escuto a madeira. do vísivel para o invisível, as mãos côncavas trazem ainda as imagens como sementes que me inundam numa voz entorpecida. pela janela branca. tão esquecida e esmaecida junto às feridas da docura e do esquecimento. dos meus olhos brancos. como uma rocha. fechada numa indivisível cegueira. onde a luz e a sombra se tocam. branca era a a janela do destino. de mãos verdes. com os animais frente ao abismo do meu desaparecimento. ou então. acordarei junto à noite com um grande bosque em sombra nos meus olhos a sussurrar um sofrimento incendiado pelo corpo: e agora encosto o meu cabelo à brancura da memória. e agora que vejo claridade perdida de onde vim, sou a breve idade deste corpo pontuado pelo verde tempo do esquecimento. nas tardes imóveis. pela paixão. daquele estranho animal. deitado sobre a língua na pálida figura das palavras. na memória das tardes. de haver nenhum gesto dentro do choro imóvel nas ruas iluminadas. dentro dos meus animais coroados na doença daquela imobilidade. tão minha. nas pétalas da luz.