segunda-feira, agosto 07, 2006


de coração vivo. e que nas intensas maresias dos teus sonhos que respires o ar apenas de leve. tão leve que os teus sapatos na pegajosa lentidão das linhas argilentas da humanidade fiquem para trás numa água sem os teus barcos. porque todos já se afastaram da espessura pousada da dor. que ao simples sopro das folhas nas margens, tu sejas a alegria sem razão, o inchar de um fruto pela primavera dentro, o desenho a lápis de uma revolução, o soluçar de medo não pela memória de um sonho colado aos cabelos como os porões negros de outro dia qualquer. mas o soluçar de uma carícia de luz pelas cortinas que escorrem pela casa. e que eu e tu. amassado o sangue com todas as mãos estremecidas ao vento. que eu e tu, no tempo quente de uma mão espalmada contra os vidros da memória, sejamos a viagem leve. com todo o coração vivo da carne desabada. a dois passos só. de um mar nascido e partilhado na melodia do calor humano. tacteando a noite. as estrelas. atravessando os campos, a pequena diferença das casas, dos muros, dos candeeiros acendidos com todas as mãos combatentes juntas aos desejos. aos nossos. de corações tão vivos.