Pouco há a dizer. Quase nada, penso. Nestes últimos dias lembro-me só de coisas tão simples que não poderiam sequer ser ditas por uma só palavra. Existo cada vez menos e o que de mim persistir morrerá nu e anónimo no chão. Esta noite, outra noite, todas as noites o ar talha a dor de cada palavra escavada na nascente da minha paixão e eu espero quase solto de caminhos no grande corpo da escuridão. Espero. Caminho. Tenho só o que não se vê. e pouco tenho para dizer. apareço. desespero. e de repente sou esta fotografia escura. Estou no centro desta sala e agora só me lembro daqueles dias de chuva lá fora. do ritmo cardíaco daquelas paredes. do estado de bebedeira que me isolava e me perdia para o abismo de sentir apenas as paredes. tudo a vibrar a toda a volta como no centro da desordem. durante esses dias, durante essas noites tentei escrever-te muitas vezes. tentei escrever. queria dizer-te o vazio que a música movia dentro do meu corpo indecifrável. queria escrever os meus músculos, os meus ossos. as minhas mãos. hoje lembro-me das paredes. daquelas paredes tristes. de me tentar apoiar nelas com os olhos. de ver toda aquela devastação no som rápido e seco que ecoava pelo frio dentro delas. vivia-se aos clarões entre as paredes. vivia-se por entre o corpo sulcado das mulheres. que apareciam. e desapareciam. na luz. às vezes paradas. outras vezes escurecidas. doendo no ruído insaciável da pele. eu vivia de cabeça desabitada numa trajectória para o interior do silêncio. despenhava-me em cada peito. morria. vivia para o tombar dos dias derrotados. um após outro. esta noite, outra noite. qualquer noite, lembro. e hoje qualquer paz me bastaria. qualquer paz. espero. desespero. caminho. e esta é a minha paixão.
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Pouco há a dizer. Quase nada, penso. Nestes últimos dias lembro-me só de coisas tão simples que não poderiam sequer ser ditas por uma só palavra. Existo cada vez menos e o que de mim persistir morrerá nu e anónimo no chão. Esta noite, outra noite, todas as noites o ar talha a dor de cada palavra escavada na nascente da minha paixão e eu espero quase solto de caminhos no grande corpo da escuridão. Espero. Caminho. Tenho só o que não se vê. e pouco tenho para dizer. apareço. desespero. e de repente sou esta fotografia escura. Estou no centro desta sala e agora só me lembro daqueles dias de chuva lá fora. do ritmo cardíaco daquelas paredes. do estado de bebedeira que me isolava e me perdia para o abismo de sentir apenas as paredes. tudo a vibrar a toda a volta como no centro da desordem. durante esses dias, durante essas noites tentei escrever-te muitas vezes. tentei escrever. queria dizer-te o vazio que a música movia dentro do meu corpo indecifrável. queria escrever os meus músculos, os meus ossos. as minhas mãos. hoje lembro-me das paredes. daquelas paredes tristes. de me tentar apoiar nelas com os olhos. de ver toda aquela devastação no som rápido e seco que ecoava pelo frio dentro delas. vivia-se aos clarões entre as paredes. vivia-se por entre o corpo sulcado das mulheres. que apareciam. e desapareciam. na luz. às vezes paradas. outras vezes escurecidas. doendo no ruído insaciável da pele. eu vivia de cabeça desabitada numa trajectória para o interior do silêncio. despenhava-me em cada peito. morria. vivia para o tombar dos dias derrotados. um após outro. esta noite, outra noite. qualquer noite, lembro. e hoje qualquer paz me bastaria. qualquer paz. espero. desespero. caminho. e esta é a minha paixão.
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