sábado, novembro 17, 2007




A casa e a solidão ficam fechadas com ele dentro das quatro paredes brancas da minha cabeça. Mesmo do lado interior dos sonhos, quando por acaso me encontram pela noite fora, cheio de medo na solidão inteira do tempo preso às mãos desabrigadas pelo frio, eu estou dentro de mim naquele estado de embriaguez que só consegue ouvir as paredes no abismo. As crianças abandonam os caracóis do meu cabelo e o caminho para casa leva-me ao chão no vazio largo de haver eu, de eu ser a medida, a única medida possível do mundo. na violência deste peso morto não se pode dizer que exista uma medida do Homem para todas as coisas. antes de tudo o mais, há a solidão de haver origem. caio. ando um pouco pelas ruas. deambulo. tenho andado muito, mãe. não acima dos pássaros, não acima das estrelas, nem sequer acima da palma das mãos onde as palavras se escrevem dentro de mim. tenho só andado muito, repito. talvez como um interior que arde apagando-se devagar na força do silêncio e do sangue. escavo a luz. escavo as noites de pétalas. abro a cabeça para ver o meu escuro. não que tenha sede, não que tenha sequer vontade de repouso num destino. é que perdido, mãe, pode ser que me recorde de ti. de ti. de que a última paisagem no mais longínquo de mim e de ti, não está no peso do meu crânio, nem na dor animal das tuas pernas, mas esteve sempre no chão que hoje piso. no lugar que perdemos pelos atalhos sufocados e adormecidos na luz. naquela luz dos corredores imóveis. naquele silêncio desenhado e nu. de uma criança que navega quieta e de olhos fechados.