domingo, setembro 09, 2007




Este sou eu. Esta cidade desconhecida e abandonada. Esta cadeira vazia, este ficheiro cheio de memórias apagadas. Uma janela de luz. Outra de árvores que cantam logo de madrugada. Não há aqui mais nada. Só papéis no chão. Rastos, pequenas diferenças de existência entre a repetição e o mesmo. Fico fechado aqui e bem sei que talvez tudo isto me leve demasiado longe ou então para demasiado perto de mim. Oiço o vento lá fora nas árvores. Através das paredes. na poalha húmida do dia. Vejo toda esta eternidade transitória e possível desenhada na luz que me ilumina. Espreito; movo-me, tento apagar as marcas, as cicatrizes quentes no espaço invisível que existe entre os meus lábios no rumor dos trapos, dos jornais e dos papéis de que sou feito. Um monte de pele sem perfume e quase sem palavras, vazio na saliva quente das camas. vazio de palavras. na distância. ouves-me? o ruído, a voz, como se perde a luz; ouves como me esqueço de mim próprio? ouve, como escrevo, como ainda escrevo, aos golpes e de unhas nas paredes até ao sangue.