segunda-feira, abril 28, 2008



Dentro de mim há uma baleia negra e magra de morte. ela respira quando eu grito fora do meu poço. quando eu penso: estou perdido no caminho e sou uma baleia de borboletas e pássaros queimados como palavras lançadas e tecidas ao vento. eu estou tantas vezes morto, digo. e logo acordo. e venho à superfície lenta da cidade: existe alguém desse lado? e acordo novamente. o que há de haver outro em mim desnuda-se no centro da minha pobreza e eu torno-me uma linha que se apaga, um semáforo de mão fechada para o trânsito minúsculo na grande estrada da vida. dentro de mim há esta baleia unida ao conceito de um pássaro cheio de raízes e borboletas. é uma ideia borboleta e interior feita de uma estrela imensa. dentro de mim. eu esvoaço. esvoaço na luz. eu desteço-me. palavra a palavra na malha negra do Verbo. como o corpo branco da minha amada. e depois fecho os olhos. atravessa-me o tempo. e posso fechar as mãos, posso então abeirar-me da luz e ser só dentro de mim.