Debaixo do a manh'ser há insondáveis e frias roldanas que o perfazem até à luz. Eu, na verdade, não existo ou sou apenas o último artifício para a perfeição de um dia. Nenhuma lágrima me cerca, nenhum sorriso me anima ou ergue; sou volátil, imperceptível e impassível como um eixo axial integrado num organismo metálico equilibrado e queimado pelo gasto. Aqui não há ninguém, aqui estamos numa maquinal gruta de Polifemo e vogamos em direcção a uma ascética poesia da crueldade como através de Antonin Artaud o a manh'ser já então cantava. Neste teatro das máquinas e das próteses mecânicas do sentir, nenhuma personagem como eu resistirá ao tempo; e o disfarce da liberdade e da espontaneidade descobrir-se-á ser mera expressão do desenvolvimento necessário de um império metafísico há muito fechado e tendencialmente esquecido numa indisciplina da razão nítida.
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