Às sextas-feiras preferia morrer como uma baleia lançada à costa. Sempre fora assim; chegavam as sextas-feiras e ficava triste por não a ver durante o fim de semana. Eram dois dias sem te ver. Chegava à cama e deitava-se de barriga para cima à espera que o sono o vencesse. Brincava com os dedos, uma mão na outra e ficava assim de olhos muito abertos e vivos para o escuro. Era sexta-feira e faltavam dois dias para te ver. Aos sábados fechava-se no sotão e afundava-se na luz meiga que lhe tocava os sonhos. Afastavam-se todos os ruídos da cidade e às vezes ouvia apenas o chiar de uma porta ao longe ou uns passos no soalho imóvel. Inclinava-se o tempo, e nas cordas de luz esticadas pelo silêncio, os meus olhos eram clareiras de florestas por te esperar durante dois dias.
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