segunda-feira, julho 11, 2005


Qualquer coisa, dizia sentado no chão enquanto as palavras se perdiam pela ternura triste de uma memória para sempre acorrentada no inverno das minhas noites. Longe do teu sorriso, o meu cabelo é aquela criança em crinas de cavalo que se lança às ondas do mar para morrer de uma tristeza radical e sem fundo. Hoje, no longo dossel alargado dos meus dias, os meus braços são o fim das tardes quando a luz se arrasta solta pelas ruas de Lisboa depois do cheiro frágil da chuva rigorosa e aplicada de ser toda a solidão do mundo. Nenhum abraço me segura, nenhum calor me suporta e eu, respirando no abraço último do sol, sou os gestos bocejados e vegetais de um pássaro caído no silêncio de um chão sem tempo.