Miratejo, 18 de Junho de 2006.
Quando aqui foi dita, esta imagem não sabia. pequena, ignorava quanto ainda teria para dizer. para dizer que vos pertencia. que só e a todos vós pertence. não sabia porque não era possível sabê-lo, digo. Mas hoje. agora, sei-o. A poesia não morre por causa de ti. de ti. de ti. de ti. e de ti. e de ti. e de ti. Por tudo. por tudo o que vocês são eu só posso levar os meus olhos ao céu. e sentir-me homem. assim pequeno e humano. com um coração que se confude com a luz comovida. ou com a beleza. com o meu rosto lavrado pelo pranto azul do caminho para o céu. e uma boca espantada por um silêncio gasto pela terra. para depois, para depois eu abrir as mãos. e depois. convosco. eu trazê-las de novo ao peito. e aí eu sou. aí um pássaro. que existe. que contigo, que por ti religa o céu à terra em torrentes lilases através dos corredores e dos dias. eu trago-vos todos comigo. tão por dentro de mim. tão perto. tão suavemente. como o teu respirar junto ao vidro. junto ao mundo. que não morre. tão perto como um abraço de papel que se desdobra numa página. tão perto quanto o vosso olhar. o vosso cuidado. a vossa atenção. o vosso escutar. e a minha noite é mais feliz. porque não morre. porque a poesia és tu. e tu. e tu. e tu também, ouviste? e tu também, sabias? sim, tu também. porque a poesia somos nós. quando sorrimos. quanto tu, meu amor, quando tu sorris. quando tu. sim, tu, e tu e tu. quando sorrimos. ou quando choramos. porque para isto, para isto do poema contínuo, para isto basta sermos e morrermos. basta erguer as mãos ao céu. e ver um pássaro. e saber. e saber que tudo está ali. dado. doado. e sem porquê.
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