quarta-feira, junho 28, 2006


Teria sido aqui que eu vos teria encontrado. Na memória de outros dias possíveis teria sido exactamente aqui. Por entre os três desertos das minhas mãos, a areia, o mar e o céu, teríamos aqui chegado num qualquer sábado da vida. Ninguém vos disse que eu estive lá. Ninguém vos disse que esta imagem sou eu naquele dia. Ninguém vos disse que ali fiquei pelos mananciais da noite só para vos ver estendidos pelo silêncio. De manhã, levantei-me antes ainda da luz se anunciar, antes de qualquer mendigo ou pássaro abandonado ao vento se mover. Todos dormiam. E voçês também. Havia uma luz de néova na doçura imóvel e suspensa do vento. Ninguém vos disse nada, e no entanto estão todos aqui. Estamos todos aqui. E ouvimos-te. E eu pergunto-me quem sou, que pensa de mim a metade do que eu me torno quando me aqui me escrevo. Teria sido aqui que eu vos teria encontrado. Como um abismo. No mesmo silêncio da madeira junto ao areal espraiado de branco. Teria sido aqui. exactamente aqui.