domingo, abril 08, 2007



Lembro-me de haver aquele mar por baixo daquela casa deitada ao penhasco das águas e dos abismos. como magoava a tempestade e aquela luz total neste poema. os dois somos tão frágeis aqui dentro. magoa tanto ver o mar com a casa aos ombros na espuma e nos espinhos secos das ondas. lembro-me de sermos os dois tão frágeis aqui dentro. do relâmpago entre os lábios e o medo. magoa tanto. como se acendiam os pulmões junto às janelas que gritavas. de olhar para mim. violento. virado: o mar vem sobre nós, meu amor. o mar vem sobre nós. e eu lembro-me. de haver aquele mar por baixo de nós. de eu não te poder dar o degrau da palma da minha mão para escreveres o teu nome. de eu não poder chegar primeiro ao quarto. para te subir as persianas e adormecer junto ao teu sono no eco da distância e do cansaço. lembro-me do mar. de não conseguir estancar aquele sangue e de me sentir perdido. tão perdido na circulação louca de todos os compartimentos líquidos e frios como agulhas. lembro-me de haver aquele mar. aquela luz total. tão desfeita através dos ventos.