domingo, julho 31, 2005


Ao a manh'ser os dias chegam atrasados. Demoram-se primeiro nos meus dedos, para subirem vertiginosos aos nós das minhas mãos; chegam sempre depois, depois do silêncio, depois da doença debruçada no meu peito, depois do frémito da chuva apagada e esbatida na clarabóia do meu sotão. Ao a manh'ser os dias tornam-se lentos como projectores na água, ou como a luz submarina da televisão espalhada por uma cama desfeita e entardecida pelos meus ombros nus. Os dias atrasam-se porque se demoram a pertencer-me na chuva, nas largas curvas das primeiras poças de água cristalina deste Verão. Leves como uma folha branca que lisa desliza pelo ar, a chuva são os dias curvados para os meus braços enquanto todo eu me atraso coberto pela água que então se demora como as lágrimas. O grande círculo fechou-se como uma velha porta. Os celeiros foram abandonados às teias de aranha. E a vida, agora, é deitar-me a sul junto ao simples e alvo sopro das férias.