terça-feira, julho 19, 2005


Lá fora, meu amor, o pó agita os teus dias. Todos os ramos das árvores caíram, e eu ainda aqui estou inventando o silêncio uterino e interior de um peso desolado no fulgor de uma ternura fechada. Nada me rodeia, ninguém me vigia e todo o suor do meu trabalho é-me inútil como o peso morto de uma neblina quente na penumbra dos arbustos que crescem sós. Ao fundo das casas, no meio da treva que cintila, terríveis são as coisas que me rodeiam pela noite fora, na ranhura dos lábios, nos quadris estendidos pelo ruído do sono; inextricáveis são os extremos recortados dos lençóis que desenham os meus sonhos enquanto ardem como avencas remordidas no perfume côncavo da minha pele. Em rugas de ternura, à tua falta, são agora eles que me desmontam e sujam para um pó que me cobre incompleto e adormecido na concha de um caracol perdido para uma fragilidade desconhecida pelas paredes. Oculto, eu não sou a face prematura das coisas que impossíveis habitam os animais murmurados pelas tardes assim inundadas de um pó que só no tempo se inventa, violento, na solidão dobrada por um cimento total e esquecido.